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Foto: Paola Alfamor

“E, no início houve Cachoeira. Em Cachoeira fomos germinados na brisa quente úmida do vale do Paraguaçu.  Em nossa forma de Girino/Homem – como todo Ser – germinado no vale do Paraguaçu a partir dos muitos idos anos 1532 (início da invasão colonialista portuguesa  em Cachoeira a partir do Iguape) já nascido “Homem – o Animal que Fala” trazendo consigo no cromossoma memória, ou em sua memória Inter temporal, quiçá secular; o entrelaçamento das memórias: indígena, europeia, africana – fossemos descendência direta ou não de um dessas franjas étnicas continentais ancestrais, (continente europeu – continente africano – continente americano do sul brasileiro) estaríamos fadados a tríplice aliança étnica cultural.

Em nossa forma inquieta de tentar entender esta realidade que nos toma – se apossa de Nós – e, ao mesmo tempo nos foge somos sempre despertados pelo questionamento: 

Quem Somos; quem Fomos; O que Seremos!

Ao tentar responder a este questionamento num horizonte temporal acontecido há cerca de 70 (setenta anos), somos levados ao tempo do Hoje, em todo o tempo que esta palavra condensa.”

— Mateus Aleluia

Filho e fruto de Cachoeira, Mateus Aleluia Lima é cantor, compositor e pesquisador da ancestralidade musical pan-africana do Brasil. Iniciou sua carreira em sua cidade natal no Recôncavo Baiano e junto com Dadinho foi responsável pelo perfil artístico ideológico dos Tincoãs, considerado o primeiro grupo vocal a expressar, na história da Música Popular Brasileira, a herança cultural – musical e linguística – de diferentes povos africanos que aqui aportaram. A ligação estreita que estabeleciam com a África tornou-se uma realidade concreta na vida de Mateus e Dadinho, quando, a partir de 1983 passam a viver em Angola. Nas duas décadas que viveram por lá lançaram o último disco dos Tincoãs, mas foi à pesquisa antropológica e cultural que Mateus dedicou grande parte do seu tempo. Contratado pela Secretaria de Cultura de Estado de Angola, ele viajou o país ao encontro de mestres e mestras dos mais diversos saberes. No retorno ao Brasil, em continuidade à sua trajetória artística, lançou os álbuns, Cinco Sentidos, Fogueira Doce, Olorum e Afrocanto das Nações, que junto com a obra dos Tincoãs são considerados marcos culturais afro-brasileiros. Desde 2020 Mateus desenvolve o icônico projeto “Nações do Candomblé”, onde dedica-se à refazer as pontes entre  as matrizes musicais sagradas do culto do candomblé e os cantos sagrados dos cultos africanos. Em fase de execução a pesquisa já resultou na composição e gravação do Álbum “Afrocanto das Nações”, lançado em 2021 e cuja singularidade o rendeu indicação ao Grammy Latino. Reconhecida autoridade cultural, Mateus foi agraciado em 2020 com a medalha 2 de Julho, maior honraria da Assembleia Legislativa da Bahia, tornando-se comendador pelo seu estado. Em 2021 foi a vez de receber o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano.

Foto: Paola Alfamor
Foto: Tenille Bezerra
Foto: Tenille Bezerra
Foto: Vinícius Xavier

Nações do Candomblé

Nações do Candomblé é um projeto de pesquisa e produção artística que surge da necessidade de registrar, reatar, e retratar de forma fiel a ancestralidade ritualística afro musical do Brasil, comparando os toques e cantos praticados aqui no Brasil com os toque e cantos dos Orixás, Nkises e Voduns em suas terras de origem no continente africano. Acredita-se ser de grande relevância o estudo de elementos do Candomblé praticado no Brasil, bem como o praticado na África, por serem bases fundamentais da cultura afro-descendente brasileira. Propomos estabelecer um paralelo entre a linguagem usada pelos adeptos dos terreiros de candomblé no Brasil, na música e no canto, e a linguagem do culto dos Orixás – Voduns, Inkises usadas pelos adeptos deste seguimento religioso nas suas respectivas regiões dos países em África, refazendo um elo de ligação entre essas dinâmicas culturais e identificando as possíveis corruptelas advindas da evolução destas culturas num ambientes de pan-africanismo religioso e cultural exercitado pelos africanos e seus descendentes do Brasil.

Foto: Tadeu Mascarenhas

Aleluia,
o Canto Infinito do Tincoã

Integrante do trio vocal “Os Tincoãs”, o cantor e compositor Mateus Aleluia desenvolveu sua carreira musical entre Brasil e Angola nas décadas de 1960 a 1980. De volta ao Brasil por volta dos anos 2000 ele retoma o trabalho artístico em uma aclamada carreira solo.

Acompanhando o processo de composição do seu segundo disco, o documentário “Aleluia, o canto infinito do Tincoã” se lança na construção de um imaginário em torno da obra e da vida do artista. Dialética de partidas e chegadas, o filme articula a obra musical de Mateus com sua memória afetiva tecendo uma delicada trama que conecta distintos lugares e temporalidades.

FICHA TÉCNICA: Direção, Câmera e Montagem: Tenille Bezerra Produção Executiva: Fabiana Marques e Tiago TAO Câmera Adicional: Alex Oliveira, Gabriel Teixeira, Bruno Saphira e Marina Sartório Som Direto: Ana Luiza Penna Desenho de Som: Roberto Ferraz Finalização de Imagem: Griot Pós Patrocínio: Ancine, Fundo Setorial do Audiovisual, BRDE, Fundo de Cultura da Bahia, Secretaria de Cultura, Governo do Estado da Bahia.

SANZALA PRODUÇÕES  | sanzalac@gmail.com

Foto: Vinícius Xavier